The Sound of Metal, Mad Max: Fury Road…

The Sound of Metal

Bom drama estrelado por Riz Ahmed sobre um baterista que descobre que está ficando surdo e, tendo que aprender a viver com a nova condição, conhece um dono de uma ‘pousada de surdos’ que muda sua perspectiva sobre a vida.

O que seria um monte de clichês é na verdade uma história econômica e direta, que tem nessas escolhas seu maior trunfo. Ao evitar momentos excessivamente dramáticos, os personagens se mostram mais reais e sinceros. Ahmed e Paul Raci, que vive o dono da pousada, são os destaques do elenco e quando o segundo deixa a história, a qualidade geral parece cair. Sintomático, já que Raci, filho de pais surdos, é uma presença muito interessante, com um rosto que conta uma história sem precisar nada ser vocalizado.

O filme sofre quando se muda para Paris, onde nada parece funcionar muito bem: existe algo sobre classe, sobre capacitismo, nada bem desenvolvido. Mesmo assim, é bem-vindo o cuidado do diretor Darius Marder em não exagerar no tom nessas partes. O que sobra é o silêncio.

Mad Max: Fury Road

Passados 5 anos de seu lançamento, “Fury Road” ainda impressiona pelo puro espetáculo técnico e audacioso de toda equipe dirigida por George Miller. O que continua não me impressionando muito é a história. Por mais que reconheça elementos interessantes, como a decisão de situar toda história ao longo de uma grande perseguição no deserto, não consigo me importar muito com aqueles personagens. Para mim, nenhum deles passa de um acessório de roteiro: precisamos de A para fazer B, portanto vamos mover essa peça aqui. É curioso o efeito disso no filme: se por um lado suas sequências de ação me parecem totalmente imprevisíveis, a história sofre por ser genérica demais.

Bee Gees: How Can You Mend A Broken Heart

História de ascensão e queda e ascensão de novo, esse documentário da HBO, dirigido pelo produtor de diversos filmes de Spielberg e George Lucas, Frank Marshall, é uma visão tenra e bem amorosa do trio de músicos.

Não me parece trazer nenhuma grande novidade tanto em sua história como no formato, e os próprios Bee Gees comentaram bastante sobre a própria carreira e possuem farto material de arquivo que é usado. Sessão agradável.

O Poderoso Chefão Coda: A Morte de Michael Corleone

A reedição de Coppola mais reajusta cenas e ordens de eventos do que adiciona algo de novo. Sinceramente, não senti grandes diferenças no filme. Para mim, ele continua sendo bom.

Gosto mais de Andy Garcia agora, apesar de não ligar para seu personagem. A polêmica toda com Sofia Coppola é só isso, polêmica. Nunca a achei ruim, e ver o pai filmando a filha adiciona todo um subtexto em suas cenas que acho curioso e fortifica o filme.

O final foi levemente alterado, e gosto das ideias de ambas as versões: morrer sozinho, ou ficar atormentado eternamente pelos seus pecados.

O cinema está morrendo?

O cinema está morrendo? E se não está, então qual o valor da experiência cinematográfica nos dias de hoje? Esses são questionamentos que todos temos enfrentado, em um nível ou outro. Cinéfilos se debruçam em análises e teorias sobre ‘o fim do cinema’, a ‘era do streaming’; o espectador casual questiona se vale a pena sair de casa já que pode escolher entre dezenas de títulos e acessar um filme do conforto do seu sofá.

Acho que não é exatamente possível propor uma resposta para essas problematizações, mas quero mostrar aqui como dá para entender os dois lados: o daqueles que defendem o cinema como uma experiência quase que religiosa, única, e outros que acreditam que o futuro do meio está nas produções pensadas para o consumo através do streaming.

Primeiro, temos de ser honestos: tirando as exceções, está cada vez mais chato ir ao cinema. Antes de questionar ou me xingar, pense: nem todo mundo possui a experiência de frequentar um cinema como o Cinesesc, por exemplo, onde a projeção é excelente, o público respeita o filme e a programação é excelente. Pelo contrário: pouquíssimas pessoas, considerando Brasil inteiro, têm a oportunidade de vivenciar isso. Na maioria dos casos, o público tem de se contentar com salas mal equipadas, projetores velhos, som mal equalizado, e, talvez o principal motivo da recusa, os preços caros. Quem quer ir ao cinema com a família vai ter de gastar com ingresso, pipoca e refrigerante, tudo muito inflacionado. E se quiser ir de carro, vai, no mínimo, gastar com gasolina e, talvez, estacionamento.

Ok, não é uma questão de dinheiro? Tudo bem, privilégio seu. Existe uma outra questão, talvez até pior: o total desrespeito das pessoas com a experiência do cinema. Se você quer aproveitar a sessão sem gente abrindo o celular, comentando cada cena, comendo pipoca alto, é bom se preparar para encarar as sessões das 12h ou do começo da tarde, no máximo.

Pois bem, dito tudo isso, é no mínimo de se esperar que você, defensor do cinema e das salas de cinema, tenha criado pelo menos um pouco de empatia com quem prefere ficar em casa, não é?

A experiência de streaming no Brasil, apesar de estar em evolução, ainda é, temos de dizer, fraca, enquanto que nos Estados Unidos vemos uma proliferação de serviços para além da Netflix e Amazon Prime, como Hulu, Shudder, e o futuro The Criterion Channel, todos com um catálogo muito mais diversificado e interessante. A questão, portanto, é sobre a possibilidade de escolha. Estamos refém de distribuidoras de conteúdo, sejam elas as distribuidoras de cinema ou distribuidoras de streaming?

Para além disso, é sabido que a Netflix, disparado o serviço mais usado aqui no Brasil, apresenta filmes na proporção de janela errada, e com qualidade baixa. Dá uma olhada neste Tumblr pra ver os ‘cortes’ que a empresa faz na imagem dos filmes. Você pode até dizer que não liga, mas isso é um desrespeito enorme para com todos os profissionais que trabalharam no filme, e representa também uma experiência incompleta para o espectador, uma vez que lhe é negada a imagem da maneira como ela deveria ser vista.

Esse texto lista apenas alguns dos problemas que a gente pode encontrar nos dois meios. Obviamente que não é possível resolver nada com argumentos do tipo “cada um tem seu gosto”, “é tudo relativo”, mas são dois pontos de vista, cada um com seus fundamentos.

Eu, particularmente, ainda acho a experiência cinematográfica insubstituível, por pior que seja. Não me interessa nem tanto a tal “experiência conjunta”, o prazer comunal de assistir um filme em uma sala cheia, pois isso, para mim, virou sinônimo de gente falando e garantia de passar raiva. O que a sala de casa ainda não conseguiu replicar é a maneira como o cinema te absorve, como as regras de convívio permitem que a gente, ou pelo menos algumas pessoas, não se sintam tentadas a olhar o celular, a desfocar sua atenção da tela. Existem, claro, outros fatores que impactam nessa análise, e entendo muito quem diz que ir ao cinema está cada vez mais caro, mas lugar de filme, pelo para este blogue, ainda é no cinema.